SHERLOCK vs JAMES BOND – Leia o primeiro capítulo agora!

Sherlock vs James Bond leia

O maior crossover da história, o encontro entre James Bond – o famoso 007 – e Sherlock Holmes. Confira grátis uma prévia do livro, bem antes do lançamento.

Minha intenção era terminar esse livro em 2020, mas a Pandemia tinha outros planos. Agora estou conseguindo voltar aos trilhos da escrita, mas o novo prazo para o lançamento ainda é incerto. Por uma boa causa: coisas bem interessantes ainda virão antes disso.

De qualquer forma, gostei tanto de trabalhar nessa história, que resolvi dividir um pedaço com vocês.

O capítulo que segue foi a primeira ideia que tive e escrevi por brincadeira. A experiência (e o resultado) foram tão interessantes que decidi transformar essa ideia em um livro completo.

Essa não é a versão final do capítulo, mas gostaria de saber a opinião de vocês.

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PRELÚDIO

Era uma noite chuvosa, como tantas outras que servem de cenário para que homicidas pratiquem sua odiosa arte. Desta vez, acompanhando a melancolia da chuva e o sangue escorrendo pela calçada, uma melodia triste soava ao alcance de todos, policiais e curiosos que acompanhavam a cena do crime. O piano automático posto do outro lado da rua despejava suas notas sobre o corpo que fora encontrado, há menos de uma hora, na rua Kirtiling em Londres.

– Alguém desligue essa maldita música – grita um dos policiais.

– O inspetor já está chegando, disse para mantermos tudo exatamente como está.

– Correção, o inspetor já está aqui – diz Lestrade atravessando a multidão junto com dois homens conhecidos por todos, mas adorados por poucos.

O mais alto e magro começa a falar, levantando a gola do casaco:

– Prelude in E-minor de Frédéric Chopin. Uma excelente trilha sonora para uma noite como esta. Meu bom doutor, examine o corpo, vou checar o piano.

O médico se abaixa para examinar o corpo enquanto o homem alto se curva sobre o piano e começa suas verificações.

– Uma excelente trilha sonora? – reclama o policial – Um homem morreu aqui esta noite, Dr. Watson, seu amigo não tem coração?

– Ah ele tem sim, eu garanto – o doutor responde sem tirar os olhos da vítima – mas na maioria das vezes ele prefere ignora-lo. Faça o mesmo quanto ao detetive, oficial, já temos muito com o que nos preocupar por aqui.

O detetive observa o piano, encharcado pela chuva e, ainda assim, tocando ininterruptamente, como se um fantasma estivesse sentado no banco bem em frente às teclas. A mente do homem trabalha rápido. O médico se junta a ele.

– Sherlock, você não vai acreditar…. – Watson começa, mas é interrompido pelo detetive.

– Ele possuía traços de esfolamento nas nádegas e nas pontas dos dedos, provavelmente foi estrangulado ali mesmo onde está, mas há sinais em seu rosto causados por lesões prévias, provavelmente tentativa de asfixia com um saco ou coisa parecida, estou certo?

– Sim, claro – John Watson não se espantava nem se incomodava mais com as deduções de Sherlock – como você sabe?

– Há marcas de sangue nas teclas e no banco que a chuva não conseguiu lavar. A cor está muito forte, um toque e… meu dedo custa a sair. As poças de sangue misturado com água formam uma trilha clara, da calçada ao asfalto, seguindo até o corpo.

– Isso é algum tipo de cola?

– Exato, nosso assassino quis transformar este lugar em sua obra de arte particular, mas é inexperiente. O agente federal ainda estava vivo quando foi colado ao banco e ao piano, ele provavelmente despertou e se arrastou pelo asfalto tentando fugir, o banco possui arranhados nas pernas e nas laterais, com certeza permaneceu colado em seu traseiro enquanto o assassino estrangulava o agente e seus corpos se debatiam. A agitação causou muito barulho, teve tempo somente para recolocar o banco em seu lugar antes que os primeiros curiosos chegassem.

– Ok, há um erro em sua história, mas vou deixar que continue – Watson tinha agora um olhar vitorioso para o amigo, nunca antes conseguira encontrar uma falha em suas deduções – fale-me sobre a asfixia e como soube que tinha sido estrangulado sem olhar para o corpo.

– A música, Watson, é a parte mais importante deste horripilante quadro diante de nós.  O Opus 28 número 4 de Chopin é também chamado de “Suffocate”. Uma pessoa não teria o trabalho de arrastar um piano até aqui, e por essa música como trilha sonora de seu ato, sem ter certeza de que a vítima morresse asfixiada. Quando o homem se soltou de sua armadilha de morte, a maneira mais rápida de assegurar isso seria o estrangulamento. Essa parte eu apenas chutei.

Watson se admirou com esse último comentário, mas preferiu não dizer nada.

– Você disse que havia um erro, qual seria? – Sherlock perguntou sem demonstrar muito interesse.

– O homem não é um agente federal, é funcionário dos correios. Seu nome é Larry Higgens, responsável pela distribuição de pacotes na região sul.

– Ora, John, eu esperava mais de você. Eu não estarei sempre a seu lado para abrir seus olhos – o detetive demonstrava agora uma grande impaciência – Olhe para o corpo de novo, me diga o que vê.

Watson respirou fundo olhou novamente para o corpo e começou:

– Vejo um homem de 42 anos, 1,80 m de altura, porte físico atlético, cabelos grisalhos, vestindo um terno feito sob medida e sapatos de couro de arraia.

– Vestimenta bem sofisticada para um funcionário dos correios, não acha?

– Ele pode ter sido um homem de gosto refinado, talvez estivesse voltando de uma festa de gala.

          – Watson, os sapatos dele.

          – Couro de arraia? Sim, bem exótico e, sem dúvida, muito caros, mas…

          – Olhe as solas, caro amigo.

          O doutor não tinha certeza do que estava vendo, mas estava ali, bem na sua frente. A sola do sapato direito possuía uma divisão estranha, bem no meio, como se algo estivesse encaixado ali.

– Mas que diabos é aquilo?

– Um módulo de rastreamento disfarçado. Equipamento antigo, usado nos anos 70 para situações de emergência. Isso demonstra que o Sr. Higgens provavelmente fosse fã de histórias clássicas de espionagem, pois hoje em dia há tecnologias muito mais eficientes, mas isso não vem ao caso, pelo menos por enquanto. Com certeza somente um agente federal poderia ter acesso a um equipamento como esse. Criminosos prefeririam equipamentos mais práticos do que esse e os nerds colecionadores não seriam tão sofisticados com o resto de suas roupas.

– Não deve ter tido tempo de acionar seu dispositivo, ou isso aqui estaria fervendo de federais – Lestrade entra na conversa – Já chega dessa música, Foreman, desligue o piano.

O policial puxa o rolo, no centro do grande caixote do piano e o trava. Ao acionar a trava, todos ouvem um zunido, um estalo, um gemido. O piano começa a se balançar, pancadas são ouvidas vindo de dentro do instrumento.

– Tem alguém preso ali! 

Todos se apressam para junto do piano, tentando abri-lo enquanto as pancadas de dentro se tornam cada vez mais fortes e desesperadas. Depois de muito esforço, Lestrade abre o tampão superior do piano e vê uma mulher se debatendo lá dentro. Ao levantar o tampão, novamente ouve-se um estalo e, agora, um chiado.

– Gás, tem gás entrando aí, tirem ela rápido! – o policial se debruçou em cima do piano para salvar a mulher, mas suas mãos pararam 30 centímetros acima do rosto dela. Ainda havia uma tampa de vidro.

– O desgraçado quer que a gente assista ela morrer – Watson pegou um cassetete de um dos policiais e tentou quebrar o vidro. Nada.

De dentro do piano, a mulher, com as pernas encolhidas, batia os braços no vidro reforçado. Ela gritava com todas as suas forças por ajuda, mas seus gritos não eram ouvidos. Os homens apenas viam o terror em seu rosto e tentavam abrir o piano. Sherlock olhava em baixo, procurando um meio de desligar o gás que enchia o pequeno túmulo de madeira e vidro em que a mulher se encontrava. A pele dela passava do vermelho ao roxo. Dois policiais tentavam quebrar as laterais do instrumento, que eram feitas de madeira muito grossa e firme, alguém foi atrás de ferramentas. Ela tinha espasmos, seus olhos se moviam loucamente. Lestrade sacou o revólver e atirou no vidro, que trincou, mas as balas não atravessaram. A mulher parou de se mover, seus olhos sem vida encaravam aqueles homens que não foram capazes de salva-la. As ferramentas chegaram.

***

Instantes depois, agentes do Mi6, agência de inteligência do governo britânico chegaram ao local, expulsaram curiosos e a imprensa, e levaram tudo, sem dar explicações a nenhum dos presentes. Lestrade gritou com toda raiva que um homem pode ter, mas seus protestos foram ignorados. Sherlock e Watson ficaram de lado.

– Uma brincadeira de muito mal gosto – disse Sherlock – e uma engenhosidade monstruosa. A trava da música acionou uma injeção de adrenalina, que fez a dama do piano despertar de sua condição, que nunca saberemos qual era. A remoção do tampão acionou o dispositivo de gás.

– Sorte nossa que o vidro era a prova de balas, ou Lestrad teria explodido a todos – Watson tentava não entrar em choque e pôr seus pensamentos em ordem – Ela tinha uma tatuagem no pescoço, um dragão, poderia estar envolvida com alguma gangue ou facção criminosa?

– Talvez, já vi aquele desenho em algum lugar, precisamos investigar.

– Conseguiu notar mais alguma coisa?

– Sim, uma mensagem – Sherlock tinha as mãos junto ao rosto, imóvel, concentrando suas forças em sua mente. Watson olhava-o com ansiedade – Havia algo escrito nas paredes do piano, cravado à unha, possivelmente algo que a mulher quisesse nos dizer sobre seu captor.

– Ela me pareceu assustada demais para pensar em deixar pistas, mas, o que estava escrito?

– Três números: 007.

 

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